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Este espaço reserva-se à publicação dos Cadernos da Fortaleza. Com esta rubrica, o museu procura divulgar aspectos mais detalhados sobre os contextos que conduziram à edificação da Fortaleza de São Tiago bem como, da sua posterior reconversão em espaço museológico, na última década do século XX.

16.8.09

CADERNOS DA FORTALEZA I

A localização estratégica da ilha da Madeira no panorama económico dos séculos XIV e XV – 1.ª parte

A existência de ilhas paradisíacas, mágicas, povoadas por estranhas criaturas e cobertas por névoa no Oceano Atlântico esteve, desde a idade clássica, ligada à mitologia, fenómeno que se manterá para além do Renascimento, justificando a crença de marinheiros e mercadores a respeito destas ilhas. Das representações mitológicas, resultam as primeiras cartas-portulanos, nas quais se encontravam referências a um conjunto de ilhas, cuja posição no atlântico e descrição, poder-se-ia associar à localização do Arquipélago da Madeira. Uma das lendas mais famosas é a que associa o conhecimento das ilhas atlânticas à lenda de São Brandão e às viagens por este realizadas no século VII. Porém, a primeira referência concreta à localização do arquipélago, surge numa carta-portulano, medieval, de autoria Angelino Dulcert, datada de 1339 (fig.1), sendo referido como Insulle Sa Brandani siue puelan. Por volta de 1375-78, reaparecem referências ao arquipélago, desta vez pela mão dos irmãos Pizzigano, em cuja carta se referiam às ilhas atlânticas como Ysole detur sommare sey ysole pone, le brandanie (ilhas chamadas do Sonho ou ilhas de São Brandão. Contudo, é a partir da publicação do Atlas de Médici (fig.3) que passa a ser notória uma representação correcta da localização no Atlântico do grupo de ilhas que constitui o arquipélago.
O progresso na representação cartográfica do Arquipélago da Madeira, resultou de uma observação presencial, fruto das várias expedições portuguesas realizadas às ilhas Canárias. Não obstante, das disputas territoriais entre Portugal e Castela, as expedições portuguesas, beneficiaram da presença de Manuel Pessanha, genovês, que ao serviço de D. Dinis (em carta de 1317), foi contratado para organizar e preparar a então insípida frota real portuguesa na arte de marear. Em 1320 a Coroa Portuguesa havia conseguido o apoio necessário junto do papado, para levar a cabo uma guerra de corso pela costa de África. A presença da armada portuguesa nestas paragens é prova do conhecimento do Arquipélago.
Conhecedor destas campanhas, o Papa de Avinhão, por volta de 1344, no Concílio de Basileia, concede o senhorio das ilhas Afortunadas (Ilhas Canárias) a D. Luís de La Cerda,[…] em troca da promessa de cristianizar os indígenas[...]. Esta doação, contrária aos interesses portugueses, desencadeou uma acesa disputa entre as Coroas de Portugal e Castela que apenas verá termo no ano de 1479, com o Tratado de Alcáçovas / Toledo (fig.4).
Na disputa peninsular pelas ilhas Atlânticas, foram apresentados argumentos de ordem diversa por ambas as partes reivindicando a sua posse. Em 1345 D. Afonso IV, de Portugal, como resposta à Bula do Papa Clemente VI, reclama a posse das ilhas Canárias, usando como argumento a prioridade de conhecimento e a proximidade geográfica. Cem anos mais tarde, D. Duarte recorre aos mesmos argumentos para reclamar as ilhas, ainda não conquistadas, junto do Papa Eugénio IV. O acolhimento papal às pretensões portuguesas conduziu a uma resposta imediata por parte de Castela, conseguindo por sua vez, obter junto do Papa a revogação da Bula.

Museu de Arte Contemporânea do Funchal / Márcia de Sousa

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